
Não estou recebendo visitas traz um relato poético sobre mudanças e perdas
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As pequenas coisas do dia a dia e a dor pungente de um luto servem de inspiração para os poemas de Ágnes Souza em Não estou recebendo visitas, o próximo lançamento da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe Editora). Lembranças da infância, o prazer da troca de um beijo no meio do Carnaval, a intimidade entre mulheres, a curiosidade que desperta nas ruas a caixa de transporte de gatos e a perda do pai são narrados pela autora em textos impregnados de vida urbana que prendem o leitor. O livro será lançado na programação oficial da XV Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, em 5 de outubro (domingo), no espaço Círculo das Ideias, a partir das 14h, com bate-papo entre a autora e a editora-assistente da Cepe, Gianni Gianni.
Não estou recebendo visitas, de acordo com Ágnes Souza, “é um livro sobre mudanças e perdas, e sobretudo traz as belezas que surgem, mesmo nesses momentos de mais fragilidade.” Os poemas contemporâneos foram escritos a partir das experiências da autora. “Escrevo a partir de memórias e observações, pelo viés do que o francês Georges Perec chama de ‘infraordinário’, de jogar luz às coisas pequenas do cotidiano, ou seja, o contrário do extraordinário é tão imenso quanto, talvez até maior”, declara a poeta.
Ágnes Souza levou cerca de cinco anos para finalizar os textos e nesse período se inclui o tempo da pandemia da covid-19, que deu a ideia para o título. O assunto é abordado logo no primeiro verso: “Se me batem à porta/ peço para que digam/ que não estou recebendo visitas/ mas quem, meu deus, vai dar o meu aviso/ falar educadamente com olhar pesaroso/ e as mãos nos bolsos/ se estou sozinha?”. A obra tem 84 páginas e está dividida em quatro seções. É o terceiro livro de poemas publicado pela escritora.
Na publicação, ela revela a dificuldade em escrever sobre o pai, falecido há poucos anos. “Nesse processo, não consegui mais escrever sobre nada. Mas, em um movimento independente de organizar o livro, enviei (o texto) para uma amiga escritora, Adelaide Ivánova, e ela disse que eu precisava escrever sobre meu pai, com muita dificuldade, o fiz, então, nasceu a seção ‘Helicóptero’ que, até então, só existia através do poema homônimo”, relata. Assim ela traduziu a dor: “Quando criança minha maior dificuldade era/ falar a palavra ‘helicóptero’/ hoje em dia/ é falar do meu pai no passado.”
O livro nasceu a partir de um conjunto de poemas. Um deles relata o fascínio pela cantora Cássia Eller, outros tratam de amores e desejos, gatas e cachorras. “Fui desenvolvendo temáticas que, na minha visão, eram afins e outras nem tanto. Durante esse tempo eu fui escrevendo, em alguns momentos, mais, em outros, menos, e trabalhando em cima do que poderia ser um livro, com a consciência de que ele não seria longo, seria mais conciso, passeando por temas mais subjetivos e pessoais, mas que configuram experiências comuns a muita gente”, diz a pernambucana, residente no Recife.
“O novo livro de Ágnes Souza traça uma continuidade do seu projeto poético, que olha para elementos cotidianos, oferecendo novos ângulos da cidade do Recife e reverberando nas imagens de tantas outras cidades contemporâneas. Uma publicação que reforça também seu interesse no lirismo amoroso, na troca íntima entre mulheres. Há algo de novo, porém, que se impõe nesta obra: a experiência do luto. Ela desloca o sujeito poético para uma dor e uma melancolia que, até então, não eram tão familiares em seu trabalho. A capa nebulosa combinada com cores mais suaves, em tons pastéis, feita a partir da pintura do artista visual Bisoro, antecipa essa atmosfera ambígua do livro. É uma alegria, para nós, ter a poeta pernambucana no nosso catálogo a partir de agora”, declara a editora assistente da Cepe, Gianni Gianni.
Sobre a autora - Ágnes Souza nasceu em Moreno, cidade do Grande Recife. É doutora em literatura, professora e pesquisadora. Publicou dois livros de poemas: re-cordis (2016) e Pouso (2020). Além dos livros, tem poemas publicados em coletâneas no Brasil, em Portugal e na Grécia. Vê o infraordinário como fonte inesgotável de vida e de poesia.
Serviço
O que: Lançamento de Não estou recebendo visitas, num bate-papo entre Ágnes Souza e Gianni Gianni
Quando: 05 de outubro (domingo)
Hora: 14h
Local: Espaço Circuito das Ideias da Bienal do Livro, no Pernambuco Centro de Convenções, em Olinda
Preço: R$ 45 (impresso)